31 de outubro de 2016

INVISÍVEIS QUE MERECEM SER VISTOS

“São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”
Cap. II, Art. 6º
Dos Direitos Sociais
Constituição Da República Federativa Do Brasil


Inicio este texto com a nossa áurea carta magna e com a esperança que essas doces palavras não sejam simples letra morta.
Essa esperança minha tem aparência de sonho. Os sonhos são uma característica dos seres humanos e nesse ponto eu e os moradores de rua, que são humanos e têm sonhos também, parecemos. Sonhos são de graça e independe de classe social e econômica. Todos nós temos ou já tivemos algum dia um. Mesmo na dura vida de moradores de rua, há ainda lembranças de suas respostas às perguntas feitas aos miúdos: o que você quer ser quando crescer? Há ainda sonhos que o tempo e as dores parecem não conseguir apagar.
Dois estudantes de Lisboa, Portugal, com uma câmera na mão e sem um objetivo certo, acabaram por fazerem uma descoberta. Com uma simples pergunta, eles descobriram que os moradores de ruas tinham sonhos. Assim, os dois, por meio de sua serie de dez fotos, lembram-nos também que os moradores de ruas são pessoas e merecem ser vistas.
                                            
                                                  “Sempre Quis Ser”




Apesar de alguns dos moradores de ruas ainda permanecerem com seus sonhos, as ruas são duras demais para eles. Nós tendemos a passar e não nos importar muito com aqueles pobres homens e mulheres que estão deitados no chão das grandes cidades. O fator de serem seres humanos em situação absurda parece não nos comover. Nós não os enxergamos como pessoas, ou ao mesmo nem enxergamos eles nos nossos passeios pelas ruas.


Texto escrito por: Erivelton da Silva

26 de outubro de 2016

Praça dos Martírios, Centro de Maceió
25 de Outubro de 2016
Foto por: Gisele Nascimento


Não é opcional

                                          Logo de primeira eu adianto: não é opcional
                                          Eu nasci preto e periférico, cresci com as asas cortadas
                                          Logo cedo perdi minha casa.
                                          Foi aí que me tornei um problema nacional,
                                          sou morador de rua, a lua é o teto do meu lar. 
                                          Mas o que mais me tranquiliza é a luz solar.
                                          Porque quando a noite vem, a morte fica do meu lado
                                          esperando apenas um desalmado pra minha vida levar.
                                          Não consigo dormir, saio andando ruas afora
                                          Se eu eu ficar de olhos abertos ninguém vai me incendiar. 
                                          É muito fácil um branco urbano abrir a boca pra falar
                                          que eu tô nessa porque quero e me apedrejar, 
                                          Mas não se opina acerca daquilo que não se vive, 
                                          você, branco urbano, teve e tem tudo o que eu não tive.
                                          É muito desleal opinar sobre o que foge de seu contexto social.
                                          Se liga, urbanóide, o sofrimento da rua não é opcional!

                                                                (Gisele Nascimento) 

                                          
                                           
Praça dos Martírios, Centro de Maceió
25 de Outubro de 2016
Foto por: Gisele Nascimento


Quintilha da distração

(Fazendo) do chão da praça um campo verde
(Correndo) atrás da bola que rola facilmente
(Usando) os pés pra distrair a mente. 
(Sonhando) ser um jogador das gringas
(Esquecendo) o quão injusta é a vida.


(Pequeno poema escrito por Gisele Nascimento, destinado ao garoto de rua que brincava  distraidamente com a bola na Praça dos Martírios, centro de Maceió).




Centro de Maceió, 
25 de Outubro de 2016.
Foto por: Gisele Nascimento.


Poema Central

Terça-feira, nove da manhã
pelas calçadas da Rua do Comércio pessoas vem e vão
Não olham pro lado, andam de cabeça baixa
Estão a caminho do trabalho, do colégio, quiçá de casa.
E o moço sentado entre as pernas rápidas
sequer tem pra onde ir.

As vezes os olhos param diante dele,
a feição em seguida é de pena
por lamentar o sofrimento do rapaz.
Logo depois viram a cara,
esquecem o que antes pensavam,
Sequer lamentam mais. 


A falta de tempo é perceptível na rapidez
das pernas, do pensamento, na compaixão momentânea.
A culpa disso é do cotidiano, da rotina, do ambiente urbano
que nos afasta da humanidade e nos enche de solidão.
Pois não pense você que tempo corrido representa satisfação.

(Gisele Nascimento)







                              

Grafite na Praça dos Martírios, Centro de Maceió
Quinta, 5 de Novembro de 2015
Foto por: Gisele Nascimento


Uma perspectiva estática

Eu tô aqui faz tempo, irmão
Já vi de tudo pelas noites dessa praça
Os caras as vezes vêm e dorme no chão
Não importa a cor dos olhos, ou a raça
O problema é aquilo no bolso que eles não têm
Dinheiro, bagarote, bufunfa ou vintém
É isso que comanda o mundo hoje em dia.
De vez em quando rola umas gritarias
Os fardados correndo atrás dos vacilões
Que roubam e correm pra cá pra perto,
Mas quem são os vilões?
Esses caras que roubam por falta de opção
Ou o deputado que desvia a verba da educação?
Mas voltando ao assunto de quem dorme aqui,
Tenho uma história pra contar:
Certa noite tinha um monte de mendigo deitado
A única poesia ali era a luz do luar
Uns fumavam,outros estavam de olhos fechados
Aí chegaram uns caras num carro
Saíram e gritaram: "Bando de vagabundo!"
Meteram tiro pra cima de todo mundo.
Um rio de sangue se formou ali na calçada
Quem foram essas pessoas desalmadas?
A polícia veio depois de muito tempo
Uma confusão tomou conta do centro
Foi um extermínio que aconteceu
Mas com um tempo o Governo esqueceu
Se você que respira não liga pra isso
Eu que sou um grafite te acho um remisso.

(Gisele Nascimento)
OCIOSIDADE OPCIONAL

“Vai, ó preguiçoso, ter com a formiga, observa seu proceder e torna-te sábio. Ela não tem chefe, nem inspetor, nem mestre; prepara no verão sua provisão, apanha no tempo da ceifa sua comida. Até quando, ó preguiçoso, dormirás? Quando te levantarás de teu sono? Um pouco para dormir outro pouco para dormitar, outro pouco para cruzar as mãos no seu leito e a indigência virá sobre ti como um ladrão; a pobreza, como um homem armado.” (Provérbios 6, 6-11)


É bem verdade que a situação dos moradores de rua em todo o país é de causar escândalo para quem tem o mínimo de noção de dignidade. No entanto, se forem investigadas as causas que levam tantas pessoas a este fim lamentável, será aberto um amplo leque de razões, das mais variadas: há pessoas que partiram de situações de violência familiar, há pais e mães de família que por causa da baixa escolaridade já não encontram mais oportunidades de emprego. Há pessoas que de tanto sofrer com a seca no sertão apanham a primeira carona que conseguem para as cidades grandes, mergulhadas numa ilusão que não tardará a passar. Outras perdem o domínio de si mesmas por causa dos vícios... Mas há uma classe, ah, uma classe... esta é estranhamente responsável por grande parcela de indigentes que a cada dia cresce mais para disputar as calçadas: são os preguiçosos.
Essas pessoas, embora desprovidas de quaisquer bens materiais, têm a soberba como matriz de suas vidas e não trabalham nem trabalhariam por nada neste mundo. Parece ficção acreditar que seres naturalmente inteligentes tenham todo o seu aparato cognitivo reduzido a dispositivo de sobrevivência porque escolheram a ociosidade opcional. Preferiram deteriorar sua identidade, viver na auto depreciação contínua e alimentar seu ego de mendicância.  
O hábito de viver de esmolas e manifestações de piedade, ainda que bem intencionadas, tem o poder de destruir as pessoas, fazendo-as acreditar que não são mais humanas, que vivem conforme o “destino lhes dita”, que não passam de miseráveis fadados a morrer de inanição. Assim criam filhos e netos, estes ainda com menos condição de pensar na possibilidade de uma vida diferente, uma vida que possa colher frutos de um trabalho.
Quem pode, vez ou outra, se aproximar dessas realidades e quem se interessa  por desvendar essas histórias de vida, verá que nem todos os pobres são pobres de espírito, que nem todos os que sentem fome aceitarão matá-la a todo custo. Pode até se chocar ao ver que muitos que recebem doações não são gratos pela ajuda, querem exigir quantidade, qualidade, sabor e marca!
Não são poucos homens e mulheres que já perderam a perspectiva de vida decente e que já não se importam com a forma como sobrevivem, sendo até mesmo capazes de recusar qualquer trabalho digno. Assim, a preguiça é comprovadamente um dos fatores que levam à mais completa indigência. É doença da alma de difícil cura. Da mesma forma que o ser humano se adequa a boas realidades é igualmente adaptável às piores realidades.
Os moradores de rua que padecem do mal da ociosidade opcional não têm ânimo nem para cortar grama, nem para carregar uma feira, nem mesmo para limpar o local onde dormem. Porém, se observassem o trabalho de uma formiga, proativas e autônomas por natureza, diligentes e precavidas, saberiam que, ao menos em proporção ao tamanho, poderiam executar tarefas grandiosas que ser-lhe-iam bastantes para a cura de sua preguiça. Atividades laborais têm o condão de limpar a alma, de fazer crescer o ser humano e de libertá-lo de suas prisões interiores. O salário e o que se consegue fazer com ele é mínimo (em todos os sentidos) diante das mudanças que podem acontecer poderosamente para os que não desistem de querer um vida melhor. Por isso, vez ou outra, aparecem em programas televisivos pessoas que deram a volta por cima e transformaram suas vidas de dor e limitação em vidas prósperas.
Desta forma, nem todos são vítimas de uma sociedade que exclui, nem todos que moram na rua, o fazem por falta de oportunidade, e nem todos se dão à chance de sair das moradas fétidas, simplesmente porque alguns já bateram o martelo para si mesmos optando por nunca trabalhar, acostumando-se com o grupo X ou Y que virá trazer comida hoje e decretando sua morte nos níveis social, espiritual, intelectual, moral e, por fim, físico.



 Texto escrito por: Erivandra Marques

A violência velada contra os moradores de rua

Moradores de rua estão sendo assassinados em Alagoas. A escalação de violência contra essa população parece não ter fim e estarrece a sociedade. Em Arapiraca um casal que vivia nas ruas foi executado com tiros de revólver na cabeça e nas costas. Foram tantos os crimes contra moradores de rua que a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República montou uma força-tarefa para atuar no estado.




O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou o Decreto 7.053, que instituiu a Política Nacional para a População em Situação de Rua. O texto prevê a integração das políticas públicas em cada nível de governo, a implantação de centros de defesa dos direitos humanos para a população em situação de rua, canais de comunicação para o recebimento de denúncias de violência e o acesso dessas pessoas aos benefícios previdenciários e assistenciais e aos programas de transferência de renda. Mas de acordo com a Pastoral Nacional da Rua, pouco saiu do papel.





A que ponto chegará a violência se não agirmos? Ate que ponto ignoraremos os pedidos de clemência dos necessitados?


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                               The Violence Against The Homeless.

homeless people are being murdered in Alagoas. The escalation of violence against the homeless population seems to have no end and terrifies society. In Arapiraca a couple who lived on the streets was executed with gunshots to their head and back. There were so many crimes against the homeless that the 'Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República' set up a task force to work in the state.




Former President Luiz Inacio Lula da Silva issued the Decree 7.053, which established the 'Política Nacional para a População em Situação de Rua. The Decree provides for the integration of public policies at each level of the government, the implementation of human rights defense centers for the homeless, communication channels for receiving complaints of violence and their access to social security benefits and assistance and income transfer programs. But according to the 'National Pastoral Street', little of it left the papers.



Which point will the violence reach if we do not act? To what extent will we ignore requests for clemency from those in need?



Postagem escrita por: José Mário Costa Rodrigues


Um simples estudante de inglês/A simple english student.

Fala galera. Meu nome é José Mário Costa Rodrigues, tenho 23 anos e estou cursando Letras na Universidade federal de alagoas (Ufal). Gostaria que a situação do nosso estado seja reconhecida internacionalmente e por isso minha introdução e meu post serão tanto em português quanto em inglês.

Hey guys. My name is José Mário Costa Rodrigues, I am 23 years old and I am currently studiying Languages at the 'Universidade federal de alagoas'(Ufal). I would like for the situation of our state to be recognized internationaly and for that my introduction and my post will both be in Portuguese and in English.